Uma senhora muito religiosa e piedosa certa vez se aproximou de um jovem rapaz para fazer-lhe uma pergunta. Ela sabia que aquele rapaz havia se formado em Teologia e portanto considerava-o alguém em cujo conhecimento confiava. A senhora perguntou-lhe se poderia fazer uma pergunta e o rapaz simpaticamente consentiu. “Os anjos existem?” perguntou a senhora.
O rapaz estava pronto para responder que “os anjos são figuras folclóricas do imaginário religioso judaico que surgiram como fruto do trauma cultural que aquele povo sofreu com o exílio na Babilônia, mas não havia bases para se firmar a crença em sua existência”. Porém ao ver a expectativa nos olhos da piedosa senhora que parecia ansiar por um “Sim, eles existem” o rapaz deteve sua resposta com pena de tirar-lhe algo que lhe dava conforto. Incapaz, porém também de trair seu conhecimento acadêmico, ele sorriu e disse “Vou ensiná-la a saber a resposta! A senhora deve olhar para o céu durante a noite!”. Ouvindo isso a senhora se foi
À noite confiante no rapaz a senhora foi para o quintal de sua casa e deitou-se num banco de jardim, de modo que via apenas o céu noturno. Naquela noite o céu estava limpo com algumas estrelas. Primeiro a senhora observava como era escuro o céu, pensando coisas que parecem bobas como “até onde vai?”, “como sou pequena diante desse enorme céu!”. Tomada desses pensamentos e diante do escuro céu da noite a senhora sentiu uma desconfortável sensação de temor, um quase medo, sentindo-se insegura. Foi quando ao vagar os olhos viu uma das poucas estrelas visíveis aquela noite. Vendo a estrela a senhora pensou “Como é linda a luz daquela estrela!”, “Como ela se mantém ali em cima?”, “Como sua luz branca e bonita viaja até tão longe para enfeitar esse céu escuro?”. Pensando essas coisas e admirando a estrela a senhora sentiu-se segura, feliz, amparada, seu temor simplesmente desapareceu dando lugar à esperança e uma diferente alegria.
Nas noites que se seguiram ela deitava novamente naquele banco, e admirava as estrelas ainda buscando suas respostas. Houve noites de céu repleto de lindas estrelas que enchiam o coração da velha senhora de alegria e em outras com menos estrelas, mas sempre com estrelas e todas as noites a senhora ia à mesma hora ver as estrelas. Isso se repetiu por várias noites até que em uma noite quando o céu estava completamente encoberto de grandes e negras nuvens que não permitiam ver nem uma estrela sequer, senão a escuridão com jeito de mal tempo. Nessa noite quando a senhora deitou-se no banco de seu quintal e teve diante de si apenas as nuvens negras, aquela primeira sensação de desconforto e temor começou a tomar-lhe novamente o coração. Porém algo logo aconteceu. Ela se lembrou da beleza das estrelas e que mesmo que ela não estivesse vendo, as estrelas estavam lá.
Nessa noite ela soube a resposta.
=O que lindo!
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